“O Caminho é feito por pessoas”. Escrevi isso em algum dos primeiros posts nas redes sociais. Diria eu que talvez o Caminho não impactasse tão fortemente as expectativas de autoconhecimento e amadurecimento reveladas durante o seu percurso não fossem os peregrinos.
É uma troca inexplicável!
Pessoas vêm e vão. Algumas ficam mais tempo. Todas com uma história a compartilhar, seja na mesa de um restaurante ou nos quilômetros que separam uma cidade da outra. Não importa.
Daí porque eu afirmar com uma grande convicção que só fica sozinho no Caminho quem assim deseja. Eu mesma, apesar de ter ido sozinha, só permaneci sozinha em longos trechos, porque assim desejei. Queria aproveitar cada minuto para ouvir a voz dos meus pensamentos, para meditar ao som dos pássaros, da cachoeira, ou até mesmo, da playlist do celular. Tinha mais dificuldade em me encontrar comigo mesma com uma companhia do lado, pois sentia uma certa “obrigação” de falar.
Apesar disso, tive muitas oportunidades de encontrar pessoas, de diferentes idades, de diversas nacionalidades. Fiz amigos, pessoas com quem pude abrir o coração. Isso, inclusive, no Caminho, não parece uma tarefa muito difícil, pois de uma forma ou de outra, o simples fato de sermos todos peregrinos já nos identifica e sinaliza um pouco da característica pessoal de cada um. Ser peregrino no Caminho de Santiago tem lá suas particularidades. Não é para qualquer um – lembro não raras vezes ter ouvido de pessoas no Brasil: “você está doida. Por que vai fazer um negócio desses? Melhor seria ir para outro lugar, aproveitar a praia sentada na barraca bebendo um cerveja gelada…”
O fato é que, apesar dos difíceis momentos que certamente todos enfrentamos no Caminho, outros tantos incontáveis de alegria nos são oportunizados, geralmente, no contato com o outro. Vou citar alguns exemplos.
Criei um vínculo especial com a Jelena (da Croácia), que já comentei aqui no blog. Tivemos uma forte empatia desde o princípio. No entanto, não caminhamos juntas todo o tempo. Geralmente, nos dispersávamos e nos albergues das cidades de destinos nos reencontrávamos. Em uma dessas ocasiões, em Pamplona, ao nos revermos tivemos uma reação tão explícita de carinho e saudade que eu deduzi que aquela mulher se tornaria uma grande amiga, em quem eu poderia confiar. Ela seria minha “anjo da guarda”. <3

Jelena <3
Outros queridos e com quem tive o prazer de conviver de mais próximo, foram a Andrea e o Renato, ambos brasileiros. Foi com eles que eu aprendi que ir além dos seus limites físicos é sempre possível, se ao seu lado tiver pessoas que te impulsione a isso. Caminhamos os três juntos em um só dia memoráveis 41 (quarenta e um!) quilômetros. <3

Andrea :D
Ouvi lindas histórias da Chris, dos EUA, que me inspiraram a ser uma pessoa melhor. Foi com ela que dormi e comi em um albergue de proposta natural, vegetariana, isso depois de nos perdermos e caminharmos 6 (seis) quilômetros a mais, dos 30 e tantos que já tínhamos feito. Estávamos na companhia uma da outra. <3

Chris e Renato :D
Marcante foi ainda a Helle, da Dinamarca, com sua alegria de viver. Helle me ensinou que por vezes precisamos ser flexíveis a fim de alcançar determinados objetivos. Sua marca é a jovialidade. Quando tiver a sua idade, quero ser como você, Helle!

Helle (a de lenço verde) :
Puxa! Eu poderia escrever páginas sobre os amigos do Caminho. Foram tantos e tão especiais. Guardo todos nas minhas melhores lembranças e nas anotações do seu Moleskine de capa amarela. <3